segunda-feira, 22 de março de 2010

O despertar da Bela Adormecida

Eu queria fazer. Queria sorrir, eu queria... O meu rosto ficava passivo e as palavras iam correndo como se eu as tivesse assustado. Eu dormia e queria estar acordada.

Observava as pessoas andando de um lado para outro, vivendo, comendo, rindo, errando. E eu continuava ali adormecida com um sorriso suave e uma rosa na mão. Que o príncipe me viesse beijar com a sua capa de vida. Esperava que um dia alguém viesse, que um dia alguma coisa acontecesse nessa minha vida de merda que não merecia nem um texto de auto depreciação.

O sarcasmo não ia me acordar hoje. Não hoje. Não agora. Agora era eu e a minha rosa. Eu e o meu sorriso suave. Eu e a minha maquiagem, a minha educação, a minha delicadeza, a minha passividade. Aonde aquilo me levara? Aonde me levaria? Para onde eu poderia ir, porque iria, com quem, como?

Eu me perguntava, eu tentava responder tantas coisas. Eu buscava tanto as respostas e me esquecia das perguntas. Andava, andava, andava e me cansava tanto. Cansava-me a vida. Cansava-me o meu dia comum, o meu sol ordinário.

Não mais era a menina que via beleza em tudo, não mais era a alegria, a luz do dia. Eu dormia. Se me ligassem eu estaria dormindo. E estaria sonhando também. Porque eu sempre sonho. Eu estaria sonhando com caminhos. Estaria sonhando com os lugares que não queria ir e os lugares que nao havia ido ainda.

Queria acordar e ter raiva. Queria acordar me arranhando, me rasgando a camisola. Eu iria pegar a rosa e jogá-la no chão. Não queria o beijo, não queria a capa. Agora eu queria ir embora.

Eu ia embora. Um dia eu ia acordar, eu sei que eu iria acordar. E quando eu abrisse os olhos eu iria sem me perguntar ou imaginar para aonde. Mas não sem antes pisar nos espinhos da rosa que eu havia esquecido que jogara no chão.


Próximo tema: Ordinário

3 comentários:

Carolina Bastos disse...

demaisss! muito bom mesmo. amei.

Gabriel Zambrone disse...

'Eu buscava tanto as respostas e me esquecia das perguntas.'
'Mas não sem antes pisar nos espinhos da rosa que eu havia esquecido que jogara no chão.'

mulher perigo. furacão.

gosto muito.
sabes bem.

Renata Fontanetto. disse...

sensacional :)