quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"Modanças"



Arrumando a mala para minha viagem, comecei a experimentar algumas roupas a fim de selecionar quais delas levaria. No meio de blusas, calças e vestidos, descobri uma quantidade relevante de peças velhas das quais nem me lembrava direito e decidi ver como ficariam em mim. Surpresa me senti quando algumas das roupas serviram melhor no dia presente do que na época em que as comprei, e a satisfação veio logo após: eu não havia engordado tanto. O peso viera com o tempo, claro, mas nada que me poupasse de entrar em minhas roupas antigas. Feliz e contente, tornei a separar os ítens que poria em minha mala e, enquanto analizava quantos sapatos conseguiria encaixar ali dentro, um pensamento me veio à cabeça: por quê?

Quero dizer, por que o fato de não ter engordado me agradava tanto? Caber em determinadas peças de roupa havia se tornado mais importante do que minha própria viagem em si. Eu estava absorvendo os padrões que a indústria da moda criara e julgava serem os ideais. Olhei então para minha mala e tudo o que vi foram ítens de catálogos das mais variadas marcas. Em um estalo súbito, percebi que se dissesse que todos haviam sido adquiridos em uma mesma loja, ninguém ousaria questionar, dada a padronização dos modelos que ali estavam. Lembrei do orgulho por mim sentido quando comentara com uma amiga que meu vestido havia sido trazido de Milão por minha tia. Penso agora por que raios isso era tão importante! Era uma bela peça, mas muito semelhante a uma adquirida no próprio Rio de Janeiro. Alguns extensos quilômetros de diferença não impediram que a confecção das roupas fosse similar. E eu ali, achando que um vestido vindo do exterior valorizaria mais a minha beleza do que um de minha própria cidade, quando, na verdade, nenhum dos dois me deixava mais bela do que quando eu sorria por motivos banais. Percebi que a vontade de pertencer estava fazendo com que a moda me impusesse os padrões que me indicavam a melhor maneira de me fazer bonita. Logo eu, que tanto criticara tal homogeinização e sempre fora a favor da valorização das diferenças.

Decidi então me desfazer de determinadas peças. Não que eu tenha saído doando todas minhas roupas e decidido me tornar a Eva do século XXI, mas levei algumas ao brechó e fiz belíssimas trocas. Descobri que não existe lugar melhor para diversificar um guarda roupa sem gastar muito dinheiro e adquiri peças vintage que deram um toque especial a ele. Não deixei de comprar saias de cintura alta ou óculos joaninha e acredito que serei conquistada por modinhas seguintes, mas adorei a experiência brecholística e a diversificação que isso trouxe ao meu estilo. Por isso, aconselho aos seguidores da Vogue que se abram à novidades não tão novas assim e, com isso, libertem-se da hipnose.




Próximo Tema: "Grande diferença de idade: prejudicial ou benéfica para a evolução de um relacionamento?"

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