domingo, 30 de maio de 2010

Não sou hipócrita, sou cristã!

Eu não dou o cu. Não faço sexo com estranhos. Alias, eu só faço sexo com meu marido e só fiz depois que casei. Eu não falo mal dos outros. Não bebo cachaça. Não falo palavrão. Não escuto funk. Eu sou uma pessoa muito boa. Eu amo todo mundo. Acho todas as pessoas legais. Eu acho muito feio quem é falso. Até porque eu sou muito verdadeira. As vezes eu erro. Mas me confesso.
O Padre Pedro é meu confessor. Ele malha lá na academia. Ele tem um físico bom. Mas fico indignada com as mulheres que o chamam de gostoso. Isso é absurdo. Eu estou sempre com o Padre Pedro. Já o vi até de cueca. Mas nunca fantasiei nada com ele. O único homem que me deixa excitada é meu marido. Eu nem olho pro lado. Acho um absurdo essas mulheres de hoje que ficam cheia de fogo falando de homem.
Outra coisa que me assusta. Maconha. As pessoas acham que fumar maconha é natural. Eu não fumo. Nem sou amiga de quem fuma. Não preciso disso pra ser feliz. Nenhuma dessas drogas. Eu só bebo vinho em momentos especiais com meu marido. E champanhe em casamentos.
Eu nunca desobedeci meus pais. Nunca menti pra eles, nem pro meu marido. Nunca matei aula. E nunca colei. Tenho orgulho disso. Eu ando certa. E fico entristecida com as coisas erradas desse mundo. Essa necessidade voraz de ser feliz. Essa falta de moralismo de hoje em dia. Eu sou assim. Não sou hipócrita, não mesmo. Acho que é bom viver assim. Fazer o que Deus manda. E ir pro céu quando eu morrer. Amar meus irmãos aqui na terra e fazer só o bem. Até mesmo pra quem quer meu mal.
Que o Senhor os abençõe!

Próximo Tema: Queda.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O trem do tempo apitou

Seus ossos vão doer. Sua vista vai falhar. Seus filhos vão crescer. E seus amigos de longa data, provavelmente, não estarão mais aqui. Você vai se perguntar por que viveu tanto?
Mas tem dias que eu me sinto como me sentia há 50 anos. Jovem. Forte. Vivo.
É, eu não tenho o mesmo pulmão. E minha cabeça já mudou tanto que nem me lembro como ela era. Eu até poderia pensar - ah! se eu tivesse essa cabeça há 50 anos - mas prefiro pensar no desafio de lembrar como minha mente funcionava. O que eu era, já não sou. Ah! mas que saudade de ser. Eu achava que podia conquistar o mundo. Fazia um plano novo a cada dia. Me lembro bem de sonhar em conhecer o Egito ou até mesmo de passar aquele final de semana em Petrópolis com a velha. Não aconteceu. Não posso dizer mais sobre, pois minha memória fraca me impede.
Recordo-me quando meu primeiro filho nasceu. Mas já não pensava mais como gostaria. A preocupação era maior. Não era apenas a minha vida. Lembro de quando minha filha mais nova se formou e aquele imenso vazio que ficou. Eu já não me reconhecia. Meu rosto estava tão diferente. Não notei todas aquelas marcas aparecendo. Obviamente, um homem da minha época não deveria se importar com sua aparência. Confesso, me assustei. Não era vaidade. Era só o tempo me pressionando contra o espaço. Fiquei com medo. Medo de morrer, de esquecer. Passei a pensar na minha inexistência. Como seria o mundo sem mim? O que eu faria quando acabasse. Meus ossos, minha vista cansada pouco me importava. Não eram as dificuldades de ser velho que me afligiam. Era o pouco tempo que hoje ainda menor me resta. Passaram-se 10 anos que minha caçula se formou. E hoje é meu aniversário. Faço 70 anos. Meus filhos e netos estão me esperando descer para a festa. E aqui estou eu... pensando como pensava há 5o anos.
Quando você fizer 70 anos vai sentir saudade de tudo o que lembra e até do que não lembra. E nesse dia vai sentir vontade de não carregar o peso de uma cabeça velha sobre o pescoço fraco.
Vai chorar, como eu choro agora... de saudade. de tristeza. de alegria. Por ter vivido muito em tão pouco tempo. E sentir o vazio de ter pensado pouco sobre o como pensava.

Próximo tema: Monofobia.

Chico

Você, um vermelho que não é bem vermelho
É um quase marrom
Me faz um favor?
Sai de mim, sai completamente.
Não te quero aqui.
Você é insistente e persistente.
Nunca vou compreender sua razão de ser.
Vai, escorra pelo ralo.
Nenhuma mulher te quer.


Próximo tema: idade

terça-feira, 18 de maio de 2010

Costura

No homem cordial
Pego as tormentas
Sigo as rodovias sem novas rotas
Toco a sua vida sem novas notas

Esqueço-me do mal
Sopro pelas ventas
Do dia em que rodeava pernas bambas
Ardia mais que nos outros sambas

Olá você, que tal
Costuro as ementas
Do nosso passado pergunto porquê
Rodeei pela sua saia godê

Me pergunto qual o certo mal
A diferença do pirê do purê
Prefiro teu pão com patê
Meu suco de orgulho..

Próximo tema: Vermelho

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Milkshake traumatizante

Foi na onda de ‘Vóvó rica pega pirralho sarado’ que Eduardo conheceu Helena em um bar. Eduardo é um engenheiro bem sucedido de 28 anos que saiu da casa dos pais tem não mais que três anos. O que Eduardo não sabe até hoje é que ele foi adotado. Claro, ele percebeu que fisicamente não há muitas semelhanças com seus pais, mas parou por aí. Helena é uma advogada e psicanalista de 45 anos que se arrepende de erros passados e por isso tenta quitá-los trabalhando com clientes que ela crê inocentes. Além disso ela ajuda uma empresa de adoção atendendo a futuros pais que não ficarão com seus filhos para dar-lhes a chance de uma vida melhor. Ao final do terceiro encontro eles foram para a casa de Helena, onde aconteceu pela primeira vez. A pegação vai e vem, e conforme a intimidade dos dois cresce, ela fica com mais vontade de conhecer a família de Eduardo. No aniversário dele os três se conhecem e assim que apresentados Helena percebe que os conhecia de algum lugar. Na próxima vez que os dois se encontram no apartamento dele, enquanto Eduardo imita o milkshake de ovomaltine do Bob’s ela repara numas fotos penduradas na parede da sala. Deliciando-se com o milkshake de Eduardo ainda olhando as fotos, ela vê uma foto dela aos 17 anos dando Eduardo ao seus ‘pais’.

- Eduardo, quem são as pessoas dessa foto?

- Ah, sou eu, meus pais e uma amiga da família que eu nunca cheguei a conhecer.

Botando seu milkshake de lado, Helena senta e diz:

- Meu bem, me escuta, não me odeie e não me procure de hoje em diante. Mas eu não posso mais te ver.

- Por que? Qual o problema? O que houve? – pergunta Eduardo, não entendendo o surto de Helena.

- Pergunta aos seus pais a verdade sobre aquela foto que você vai entender. Agora, eu preciso ir.

Ela dá um abraço apertado nele e sai do apartamento dele correndo antes que ele a veja chorando. Eduardo pega a foto e vai correndo aos seus pais pra entender alguma coisa melhor. Depois de tudo revelado ele não acredita na situação e ligando os pontos ele tenta seguir em frente um dia por vez e vira o Charlie Harper da vida real.



Por Carol Lucchetti

Próximo tema: saia godê e bad memories

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Danço sobre Rodas...



Tardes de sábado

Manhãs de domingo

Patins

Quatro rodas um freio

Laranja

Tardes de sábado

Noites de sexta

Bate- Bate

Campo Seu Bento

Patins

Piruetas

Sorrisos

Competição

Lágrimas decorrem de um sonho

Vergonha

Patins

Rosa Branco

Danço sobre rodas

Agora são 5, sem freios

Infinita alegria

Danço de costas pro mundo

Olhar que me cerca

Livre como voar

A tarde inteira pra me jogar

Patins.



Muriel M. Machado


Próximo tema : O Complexo de édipo e o Milk Shake

Fim de t(arde)

Agora tudo quase volta ao normal. Não têm mais telegramas (nunca existiram). As gotas da chuva caem com uma dúvida, mais do que a certeza de antes. O mate virou suco de maracujá. Com pouco açúcar (porque açúcar - vc sabe, meu bem - faz mal) e muito glútem, não sou alérgico a coisas inventadas como vacinas anti-perfeição.
No meu sal coloquei água. Me recupero da desidratação. Da paixão das rosas e urtigas. Gosto deste chá. Deste veneno tenho sede. Mas agora li o 'modo de usar'. A propaganda que estava na prateleira tinha aste(risco). Não li. A engoli com sede. Nas minhas veias já corriam o outro vermelho. E como correm. Na ponta dos meus pés, impulsionou. Na ponta das minhas mãos, cortejou. Na ponta do meu coração, eletrificou.
Veneno doido, risonho e afastado. Te faz calado e te deixa desnorteado. Liguei para a ambulância e do outro lado da linha estava: eu próprio. Efeitos colaterais a parte, ria e não olhava para o chão. Meus atos se vingaram de forma abrúpta, caí no bueiro da rua. Vi ratos e baratas impactantes. Conheci o sub-mundo do qual fazemos parte de vez em quando.
No escuro e só. Metabolismo inconsciente e uma sinestesia de obnubilação. Começo a esfregar os olhos do tombo, ser puxado de volta ao âmago da rua. Não era dia, nem era noite. Era um fim de tarde.
A combinação do fim e da tarde, antes ensolarada. Agora o sol não brilhava mais, mas iluminava. A lua não iluminava ainda, mas brilhava. Tem vezes que só ao tomar o próprio veneno, te faz reparar a bula do doce veneno que estava na prateleira.
Beba com moderação, mas beba. Nunca se sabe quando poderá beber novamente o veneno em que um dia fez do bueiro da rua virar uma aprendizagem sua.

Tim Tim! (agora siga a bula, mané!)

Próximo tema: Patins

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A parte funda



Alguns tem um sério problema: não se contentam.

Vivem me chamando atenção pelo meu all star rasgado, minha meia furada, minhas unhas roídas. Meu cabelo bagunçado, minha cara amassada e minhas roupas aleatórias.

Eu tenho um sério problema: não me contento.

Está longe de me chamar a atenção um vestidinho florido, um cabelinho arrumado e uma maquiagem bem feita. Não estou nem aí pro teu sapato lustrado, tuas calças de marca e teus óculos importados.

Tudo isso pra mim é superfície.
Mas eu sempre gostei da parte funda.

Por debaixo destes trapos existe um corpo quente. Que incendeia. Perfeitamente capaz de causar queimaduras de terceiro grau: daquelas que penetram a carne.
Por trás dos meus óculos baratos se esconde um par de olhos que almoça, janta e faz questão de sobremesa: olhos castanhos que devoram. Engolem. Sugam. Absorvem.
Por dentro de meus tênis, debaixo dos furos de minhas meias, existem os meus passos. Passos. É dali que vem o meu movimento. São com eles que eu sigo em frente.

Nunca fui aparência, máscaras não cabem em meu rosto, minha alma é profunda demais para camuflagens. Gosto de brincar com o superficial, distraindo os alheios para que evitem se aproximar da minha complexidade. Sou um buraco no fundo do mar, são poucos que suportam a pressão ao tentar mergulhar dentro de mim.

Perguntaram-me um dia por que eu não experimento ser gente de verdade, ao menos uma vez.

"Mas eu sou de verdade. Só não sou gente."





Próximo post: Veneno

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Foda-se

Você é uma piranha. Uma piranha, sim. Uma suja, uma podre.

Eu queria estar bêbada o suficiente pra te puxar pelo braço pra falar tudo que você precisa ouvir, sua vaca. Você precisa aprender a respeitar as pessoas, porra. Não é assim. Você não pode sair por aí achando o que quer, e falando o que quer, e se fazendo de gostosa como se tudo girasse em torno de você. Não é assim, nunca vai ser - pelo menos enquanto eu puder impedir.

E, olha, se as coisas corresem bem como eu planejo, você ia tentar fugir, se devencilhar das minhas palavras, dos meus berros, dos meus palavrões. E, se eu bem te conheço, é exatamente isso que acontece. Do jeito que você é fraca, é bem capaz mesmo. Sua escrota. Tenta correr de tudo, tenta fugir que tudo que não sai exatamente como você planejou no seu mundinho de merda. Mas é aí que você se fode. Vaca.

No segundo em que você tentasse fugir de mim e das minhas palavras ríspidas, rancorosas e cuspidas, eu te puxava pelo cabelo. Ninguém foge de mim assim. Ainda mais você, que acha que pode foder todo mundo.

Você foi uma escrota. Porra. Sabe, eu ainda entendia quando você me atingia. Eu sabia que você não tava ali pra me atingir, se eu me sentia sacaneada era problema meu. Eu não sou que nem você, porra. Eu sei que os outros têm vida.

Mas aí eu vi que você tava sacaneando ele, e, olha. Ninguém mexe com ele. Pode ter o rostinho de boneca que for, a educação europeia que for, a postura ereta que for. Fodam-se os meus modos, foda-se a minha unha roída, foda-se o meu tênis sujo. Não é porque você mora numa cobertura e só começou a andar de ônibus mês passado que você pode fazer o que quiser com os outros. Ainda mais com ele.

E, olha, você tem sorte. Tem sorte de nunca ter olhado no meu olho, de nunca ter puxado assunto comigo, de nunca ter chegado nada ao meu ouvido de você falando de mim por aí. Porque se eu descubro uma porra dessas, garota, você tá fudida.

Fudida, tá me ouvindo? Porque aí eu não vou nem precisar estar bêbada pra te puxar pelo braço.
E, depois, eu acho que você já sabe o que acontece.

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Próximo tema: Superficial

domingo, 9 de maio de 2010

MÃE, mère, mutter, madre, mum...

Eu grito, eu brigo, eu reclamo. Mas não sei viver sem você, sem seu carinho, sem suas broncas, sem suas reclamações, sem suas críticas. Não sei viver sem seu abraço, sem seus beijos, sem seu colo, sem seu infinito amor. Não sei viver sem o seu "juízo", sem o "se cuida", sem o seu "Deus te abençoe". É a sua presença que me acalma, me conforta e me tranqüiliza. É você quem me alegra todos os dias, é você quem me anima, me apóia e me incentiva. É você quem confia e acredita em mim. É você quem está sempre ao meu lado, me ninando, me amando, me cuidando, se sacrificando. Tudo o que sou hoje eu devo ao seu amor, a sua paciência e dedicação. Todas as minhas vitórias e conquistas eu devo a você, e são os presentes que posso tentar te dar pra retribuir um pouco de tudo o que você fez por mim nestes últimos 21 anos. Você me deu a vida, me deu sabedoria, me moldou e me transformou no que sou hoje. Você me deu amor, me deu alegria. Sem você eu nada seria. Sem você eu não existiria. Mãe, eu te amo. Daqui até a eternidade. Desde sempre e para sempre.


...Só pra não passar em branco aqui.
Voltando: PRÓXIMO TEMA: Palavrões

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Aprendi que não é fácil

Aprendi que o fim nunca é fácil, mesmo que desejado, previsto ou o caramba. Terminar algo é recomeçar. Mas não sabemos para onde esse recomeço vai nos levar. Choramos e ficamos mal não só pela perda e ausência do que foi antes muito presente, mas também pela angústia do que está por vir, pela incerteza, pelo luto natural de um ciclo que se fecha.

Não é fácil lidar com perdas. Aprendi que não é fácil lidar com as pessoas quando elas pensam de outra forma e tem desejos diferentes do seu. Não é fácil lidar com a rejeição, lidar com o fim de alguma coisa que você prezou demais e que lhe foi extremamente importante. Não é fácil lidar com a indiferença alheia, com a falta de paciência e com a falta de oportunidade que os outros não me dão. Não é fácil o passado vir novamente à tona justamente quando você começa a deixá-lo no passado. Aprendi que não é fácil se deixar levar pela emoção e pelo coração, enquanto os outros se deixam levar só pela razão. Não é fácil abrir portas pra começar uma nova relação por medo de estar fechando as portas pra outra. Não é fácil lidar com o medo de perder a chance de um recomeço. Não é fácil querer quem me quer, mas também não é fácil deixar de querer quem não me quer. Não é fácil lidar com o medo de não ter sido um pouco mais paciente. Mas aprendi que também não é fácil rejeitar tantas oportunidades pela espera de uma que não vem. Não é fácil esperar e sentir saudades. Não é fácil você querer, insistir e ouvir um não. Não é fácil quando duvidam das minhas mudanças. Não é fácil quando não me deixam oferecer todo o meu amor e dedicação. Não é fácil... Mas na vida e no amor, não temos garantias mesmo.

Aprendi a deixar as coisas fluírem naturalmente. Não quero mais dor, não quero mais peso. Quero ter a certeza de que fiz tudo que pude, e tenho. E independente de qualquer coisa, só quero ser feliz. E a vida vai fluindo... E as coisas vão acontecendo... E aos poucos a gente vai se permitindo... É difícil, e aprendi que as mudanças às vezes são mesmo assustadoras. Mas quem disse que viver seria fácil? (texto meu de agosto de 2008, com algumas modificações)


PRÓXIMO TEMA: Palavrões

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Lissensa Powéhtik,



Desculpa, meu amor. Me desculpa se eu sou a sua culpa. O meu passo está na frente e você está atrás. Não temas disso. Estou de costas. Estás na minha cola. Estou vulnerável. Agarra-me com um mata-leão ruidoso. Estarei pronto para dar-lhe meu contragolpe efusivo. Estarás no chão, de novo. Mas estará na minha frente, de novo. Pisoteio-te para passar-me adiante. Teu berro de dor me entristecerá. Estou na frente, vulnerável novamente. Culpo-me pelo berro ouvido. Dou o braço a torcer. Ergo-lhe e te jogo para cima e, com contra-gosto, contra ataco andando de passos calejantes para o ponto seguinte. Meus calos ardem. Agacho-me de curioso, Pula-te feito cavalinho. Danada, estás no prumo. Estou com a garganta seca e sangue concentrado no crânio. Me deste um gole seco de saliva. Seu prazer lhe distraia. Olhou-me e tropeçou no meio fio. Rezando na posição do clero. Napoleando galopei. Conquistei tuas costas esguias com massagens de meio-dia, feitas por pés calejados, ancorados no horizonte. Olhava pra frente mas não via que via só. Só e somente só. Pois via fantasias enquanto ardias de dor. Então foi quando, talvez num ato de costume, desceu das costas e deu um passo a frente. Quando olhou pra frente, abriu o sorriso, dilacerou-se do orgulho, desfez-se de tal mediocridade e girou no próprio eixo cento e oitenta graus, graúdos graus. Ajoelhou-se pecaminosamente. Piscava incessantemente. Erguera o rosto tremendo em frente do novo que via. O novo contra olhou com um olhar perdido, já na abstinência de ganhar alguma batalha pretendida. Olhos deitados, cansados de tamanha clemência. Foi quando o ajoelhado do horizonte visto e não compartilhado suou, chorou, misturando todo o seu eu-orgânico e se acabou mirando os olhos pro céu. Os joelhos do meio fio fizeram o beligerante de trás ver aonde o chão semeava o limite. Dependurou-se no ombro do choro alheio, ergueu-lhes feito árvore, seus joelhos apenas jorravam o vermelho da vida. Mas, em contra-partida agora andavam e miravam juntos para uma via sem volta.

A via do amadurecimento.


Próximo tema: O que aprendeu hoje?

Filhos da Puc

"O que a vida constrói, a puc destrói" - isso era o que eu mais ouvia na primeira semana de aula quando me perguntavam se eu tinha namorado e eu dizia que sim... Tinha minha consciência limpa por saber que nunca terminaria meu namoro de três anos por causa da minha vida de universitária, das festas, do pires, das novas amizades, do novo tudo... Eu já era madura o suficiente pra entender que não preciso ser solteira pra ter minha liberdade.

Entretanto, as coisas já não caminhavam muito bem, e o ponto final foi posto - talvez - no melhor momento... eu precisava de um tempo só meu, um tempo me amando, um tempo admirando meu talento, coisa que por três anos praticamente fechei os olhos... o ponto final veio e com ele um vômito de palavras, de sentimentos e desabafos... o ponto final veio e com ele muitos sorrisos, declarações e poesias... o ponto final veio e com ele um novo começo de frase, ou novos, varios 'era uma vez', varios novos, varios tudo... veio tudo junto, jorrando felicidade...

Era a melhor fase da minha vida. Quer dizer, É a melhor fase da minha vida... e não foi a PUC que me fez enxergar que eu precisava estar sozinha pra perceber isso, eu simplesmente vi que para ser feliz nesse novo mundo eu teria que me desprender dos meus antigos, do que me deixava sem ar nos meus medos do passado... eu tinha que sair daquilo, da sensação sufocante de não poder amar a mim mesma... a sensação sufocante de estar com alguém que nunca ligou pro meu talento, minhas palavras, minhas fotos, meu dia, meu amor...

Não suporto ter que escutar que o ponto final existiu por causa das festas e das minhas cervejas, não. Como eu disse, já era madura o suficiente pra entender que não preciso ser solteira pra ter minha liberdade... E melhor ainda: não preciso ser solteira pra ver que me amo mais do que amo os outros, que sou mais feliz dedicando meu talento a mim mesma, minha vida a mim mesma, meu amor a mim mesma...

Mas nem tudo na PUC é SÓ festa, não é mesmo? Mesmo em comunicação social... e eu não falo dos estudos (que estudos?), eu falo daquela parte do novo, das novas pessoas... Porra, eu cheguei com dois pés na frente, tentando me infiltrar aonde houvesse energia boa, tentando transmitir meu sorriso e minha personalidade forte, tentando fazer novas amizades pra esquecer das minhas perdas passadas. Mas ganhei patadas - já... e isso chegou longe. Quando eu não conheço alguém, eu não julgo a pessoa, eu não chamo ela de piranha e rendeira, eu não falo nada que ela não possa se defender... mas eu posso. E estou aderindo a nova comunidade do orkut: "sou legal, não to te dando mole". Se eu rendi pra veteranos, calouros e afins, é mais do que problema só meu, certo? Se eu ainda tivesse ficado sei lá, com 15 meninos da puc em 1 mês, NEM ASSIM vocês poderiam me chamar de alguma coisa...

Vida de universitário é isso mesmo. Você é feliz todos os dias, você bebe quase sempre, você se encanta com todo mundo, você tem que ser inteligente pra tirar nota boa sem estudar, você tem que aprender a amar a si proprio, você cria uma nova historia, esbanja seus talentos, mata aula no pires (mas sem exagerar), você faz tudo o que quer, cria responsabilidade na sua vida, você tem que aprender a lidar com gente MUITO mais invejosa do que no colégio, você tem que aprender a lidar com uma universidade inteira, milhares de pessoas prontas pra te dar o primeiro tiro. Você tem que estar preparada pra dizer que não depende da opinião alheia pra ser feliz.


Eu não dependo, e tornarei, então, minha vida de universitário na minha propria vida, e assim, serei MUITO, MUITO feliz...


PROXIMO TEMA: INVEJA

Eu me basto.

Em toda minha vida nunca tinha conseguido me desprender dos sentimentos pelos outros. Não conseguia ficar muito tempo solteira ou muito tempo sem gostar de alguém. Sentia sempre necessidade de ter meu coração preenchido. Ou eu saía de um namoro e entrava em outro, ou saía de um sentimento e começava a sentir de novo por outra pessoa. Se eu estava solteira, sempre sentia saudade do último ex e quase não conseguia tocar a minha vida realmente em frente enquanto não achasse um novo homem pra me fazer sentir borboletas no estômago pra poder me entregar de corpo e alma novamente.

Realmente, amar e ser amada é a melhor coisa do mundo. É lindo, sublime, encantador, sereno, e faz bem pra alma e pra saúde. Mas somente agora eu realmente consegui entender e sentir que o amor próprio é muito mais importante que o amor ao próximo. Até porque, se nós não nos amamos, jamais conseguiremos oferecer amor ao outro. E isso, pra mim, é indiscutível.

Sempre respeitei minhas lágrimas, mas hoje respeito muito mais minhas risadas. Pela primeira vez na vida eu estou feliz, porque agora eu sou a causa e a consequência, e o único motivo dessa felicidade. Todas as minhas vivências, experiências, erros e acertos me fazem rir e me fazem hoje uma mulher mais sensata, crescida, madura, feliz.

Pela primeira vez na vida eu estou totalmente desprendida de sentimentos, não preciso de um novo companheiro, não sinto mais necessidade de ter um novo (bom) namorado. Não amo ninguém além de mim mesma e de outras pessoas próximas a mim. Não estou amando homem algum, e até agora pouquíssimos fizeram meu coração disparar. E é por isso que não estou com pressa de dar chance aos pretendentes apressados, porque hoje, o meu único pretendente é o amor-próprio. E o meu único objetivo é continuar sendo feliz e me bastando sozinha, porque sei que foi por ter sentido tanta dor que hoje eu sei reconhecer, sentir, desfrutar e aproveitar a felicidade.

Hoje eu estou e continuarei estando sempre no patamar mais alto da minha vida, e sou muito mais feliz por ter reconhecido, aceitado e entendido que minha felicidade não depende de ninguém porque as coisas mais lindas são gratuitas e estão em pequenos gestos e pequenos acontecimentos que poucos param pra sentir e perceber. Hoje vejo que a felicidade está nas coisas mais simples da vida, e consigo reconhecer que eu posso ser perfeitamente feliz sem precisar de ninguém.

Mas não quero ficar sozinha o resto da vida, até porque amar e ser amada é algo que também enobrece nossa alma e nos faz feliz. Na verdade, é porque hoje minha única prioridade sou eu e a minha auto-felicidade. E depois de tantos erros e acertos, aprendi que na próxima vez que eu estiver com alguém, estarei com ela ciente de que estou junto porque amo, porque gosto, porque quero e porque me sinto bem, e nunca por achar que preciso dessa pessoa ao ponto de não conseguir viver sem ela. Hoje, eu vivo por mim, e vivo em busca do propósito da minha existência.

Aprendi, com muito custo, que as pessoas se completam não por serem metades, mas por serem pessoas inteiras, dispostas a dividir alegrias e objetivos comuns. Aprendi a crescer com as cordas do violão: são independentes, mas juntas, e cada uma fazendo a sua parte constroem as mais belas melodias. Aprendi finalmente a me bastar, e a nunca mais me abandonar.



PRÓXIMO TEMA: Vida de universitário.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Desde o dia em que te vi...

Na primeira vez que te vi meus olhos brilharam, ofuscados pela sua luz.
Ofuscados pelo brilho dos TEUS olhos.

Na primeira vez que te vi senti meu coração pular pra fora do peito,
Querer sair pela boca.
Bater dentro da garganta.

Desde então, não consigo pensar em mais nada.
Não quero pensar em nada.
Abandono todos os pensamentos pra conservar aquela lembrança.

Lembrança, só lembrança, porque nunca mais pude te ver.


Próximo tema: livre.

Waltinho

Tudo tem dois lados
Como uma faca de dois "legumes"
Como o espelho da poça em estado ondulatório
Causada pelo passar de rodas de um carro em plena corrida
Como dois rios que desembocam no mesmo
Lado

Lados...

Eu e meu Walter Ego.

PRÓXIMO TEMA: À PRIMEIRA VISTA

Nascer

O amor nasce no lodo
É como um rodo
Que passa e arrasta
A essência de si

O amor nasce no lixo
É como um bicho
Que precisa de espaço
Para poder viver

O amor nasce do nada
É como uma enxada
Cravada no solo
Do meu coração

O amor nasce em mim
E caminha para o fim
Morrendo aos poucos
Deixando-nos loucos


Próximo tema: tudo tem dois lados

terça-feira, 4 de maio de 2010

O Parto do Artista.

A inconsequência de amar é morrer de amor,
A inconsequência de sonhar é viver dele,
A inconsequência de escrever é se autoanalisar,
A inconsequência de ser artista é amar demais, sonhar demais e escrever demais.
A inconsequência da consequência é ser quando não se deve.
A inconsequência de ser é não ser sendo.
A necessidade da inconsequência está em duas doses a mais, uma caneta, um pedaço de papel, um amor e uma obra.
O resto é consequência.

PRÓXIMO TEMA: "O AMOR É O RIDICULO DA VIDA"